11 de nov. de 2015

MÚSICA | Entrevista com o cantor João Guarizo

Olá pessoal, essa é uma entrevista que o cantor, compositor e perseguidor de pombas João Guarizo me concedeu ano passado. Originalmente publicada em outro portal mas que, agora, trago a vocês leitores do Perdi A Chave. O Cd já fora lançado mas vale a pena ler e reler o que esse dinâmico e divertido músico tem a dizer sobre a sua carreira e essa nova geração de músicos brasileiros que se encontram por internet e financiamentos coletivos. 

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Eu: No vídeo do Catarse você nos conta como começou sua carreira. História semelhante à de muitos jovens que começaram em rodas de amigos e violão e que, com o tempo, vão parar nos palcos do Brasil afora. Como foi esse inicio e como foi essa transição de farra à carreira?

João Guarizo: Comecei a tocar violão com 15 anos de idade, na época fazia aulas com meu cunhado e também ouvia muito o Dani Black tocar. Somos amigos de infância e ele tocava desde os 6 anos já. Ai sempre pedia dicas pra ele. Em 2006/2007 conheci a Maria Gadú e o Toni Ferreira e na época queria ser jogador de tênis, mas como eu andava sempre machucado, de manha eu ia pra fisioterapia e a tarde pra casa deles fazer um som. Ai a musica falou mais alto, depois de um tempo nessa escolhi abandonar o tênis. Logo depois decidi fazer cursinho e encarar o vestibular. Fui fazer Produção Cultural na UFF e, naquela época, o Toni e a Maria foram morar no Rio também, ai comecei a conhecer os amigos deles e frequentar diversos saraus. Até ai era tudo diversão e não estava focado na carreira de artista, até que me chamaram pra gravar o CD/DVD  “Sarau – Novos Talentos da MPB. Depois dessa experiência vi que a coisa estava, realmente, ficando mais “profissional” e decidi largar a faculdade pra focar na música.


Eu: O humor é muito forte em suas composições (a hostilizada Pomba que o diga), mas não é só de graça que suas músicas nos tocam. Há a ácida “Because Ousa”, a doce “Meus amigos” e a “Saber De Uma Alma” interpretada lindamente por Toni Ferreira. Como é o João Guarizo compositor? De que forma o escrever se faz presente em sua vida?

JG: Pois é, acho que a música é uma ferramenta muito poderosa e versátil. Pode ser usada de muitas formas e maneiras. Uso ela pra brincar, pra falar dos sentimentos,  da alma, da pomba,  de relacionamentos, do que vier na cabeça e  do que der vontade. Pra mim não tem nenhum limite e nenhuma regra.  

Eu: Quais são suas principais influências na música?

JG: Minhas maiores influencias foram meus amigos (Dani Black, Maria Gadú, Paulo Novaes, Toni Ferreira, Leandro Léo, Bianca Godói, Bolinho, Pedro Altério, Pedro Viafora, Bruno Piazza, Fred Sommer, Gugu Peixoto e a lista segue com muita gente.). Aprendi muito com eles.  Eu sempre fui muito curioso e observador, então sempre perguntava como fazer uma batida ou acorde. Certamente eles foram os que mais me influenciaram. Claro que os grandes nomes também me influenciaram mas eles não estavam tão presentes em minha vida. Sou fã de Raul Seixas, Zeca Baleiro, Lenine,  Mulheres Negras, Mauricio Pereira, Bob McFerrin, Mamonas Assassinas, Adoniram Barbosa... 




Eu: O financiamento coletivo é uma prática cada vez mais adotada por artistas independentes e, claramente, há um cenário musical da nova geração de MPB que se mostra e interagem por ali. Você, por exemplo, teve a colaboração de diversos artistas como Gugu Peixoto, Toni Ferreira, Leandro Léo, Tais Alvarenga e muitos outros em suas campanhas.  Como você vê essa nova geração da MPB e esse movimento internáutico que os une e os aproxima do público? 

JG: Acho que é fundamental esse movimento de apoio entre os artistas. Ficar navegando sozinho vira quase um suicídio. O legal dessa pratica é que vamos trocando muitas “figurinhas”. As vezes um fã do seu amigo acaba virando seu fã por essas indicações e vice-versa. Penso que é essencial esse tipo de prática. Hoje temos muito material na internet e fica difícil ter um filtro eficiente de conteúdo. Agora quando um musico indica algo, aquele fã sente que aquela indicação tem um certo tipo de “credibilidade”. 

Eu: Por falar em financiamento coletivo, o “Na vida anterior” foi um projeto muito bem sucedido no Catarse. Conte-nos como foi sua experiência.

JG: O “Na Vida Anterior” é um projeto que venho trabalhando desde o término das gravações do CD/DVD “Sarau – Novos talentos da MPB”.  A campanha para o Catarse foi pensada 6 meses antes de iniciar o processo de financiamento coletivo. Acho que o sucesso veio exatamente desse planejamento. Pesquisei muito sobre todo o processo de crowdfunding para poder fazer uma campanha criativa e eficiente. Além disso o processo exige muito trabalho e dedicação durante a campanha, lembro de ficar vários dias em frente do computador divulgando e divulgando. Não é fácil, mas vale o esforço. 

Eu: E sobre seu “filho”,o que podemos esperar desse álbum? Fale-nos sobre o projeto.


JG: O “Na Vida Anterior” é meu primeiro álbum autoral e vai contar com algumas parcerias também (Dani Black, Luiz Murá, Paulo Novaes, Barbara Rodrix, Demetrius Lulo). O álbum é apenas uma parte do projeto “Na Vida Anterior”. Esse disco pretende apresentar o universo dos personagens através das canções e das ilustrações do encarte para, futuramente, entrarmos de cabeça na história do “Na Vida Anterior”. Se eu falar mais vou estragar a surpresa. rsrsrs. O lançamento está previsto para março de 2015 e o show de lançamento para abril de 2015. 

Eu: Deixe um recado para os fãs e leitores do Perdi a Chave que, assim como você, pretendem se lançar na carreira independente e que conta com a internet como uma grande aliada. 

JG: A minha primeira dica é “fazer”. Produza conteúdo. Faça vídeos, musicas, fotos, e tudo que for pertinente para sua carreira. Só assim as pessoas vão ter acesso a sua arte.
A segunda, “mostre”. Divulgue na internet. Não espere que as pessoas compartilhem seu vídeo do nada. Você tem que dar um jeito das pessoas conhecerem seu trabalho. invista tempo e dinheiro nas redes sociais. Afinal esse é seu trabalho, você tem que investir nele.
A ultima, ‘trabalhe e tenha soluções criativas”. Hoje a vida de musico independente não é só tocar. Hoje temos que ser musico, produtor executivo, hold, fotografo, design gráfico, roteirista, e tudo mais que não podemos pagar para terceiros fazer. Tenha soluções criativas para seus problemas, use sua criatividade de musico para resolver e achar soluções.   





Eu: A música já faz parte de sua vida há anos, mas e o futuro? Quais são os planos e caminhos que pretende trilhar?

JG: Bom, ano que vem espero lançar o “Na Vida Anterior” e fazer muitos shows do disco. É hora de colher o que foi plantado. Também vou lançar outros produtos para o universo do “Na Vida Anterior”(aqueles que não pude falar na outra pergunta.rsrs). Fora isso continuo com meu trabalho de trilhas e meu show duo com o Toni Ferreira.  Meu futuro se resumi até aqui. Vamos ver o que vai rolar com esse disco. 


Parceria com Toni Ferreira
"Ahhhh....
Eu fui lá vender a minha alma que já está coberta pela paz"




"Olhe pro seu amigo, do seu lado esquerdo
E fale para ele, do fundo do peito
O quanto ama ele e o quanto vai mudar
Se um dia desses, ele te abandonar"



Conheça mais o trabalho de João Guarizo clicando aqui e curtindo sua página no Facebook.


Publicado originalmente: AODC Notícias

23 de set. de 2015

MÚSICA | Entrevista com Duda Brack


Eba, mais uma entrevista no Perdi A Chave! Okay, essa é uma entrevista antiga que realizei para um outro portal mas agora, com disco lançado, vale muito a pena relembrar. 

A conversa foi com a cantora Duda Brack. Uma jovem de vinte anos que já carrega em sua trajetória premiações e admiradores assíduos que, mais do que ouvir, degustam, saboreiam e se lambuzam com sua voz. Extremamente simpática, aceitou responder algumas perguntas dessa blogueira (e fã) impertinente que vos fala. Confira abaixo essa entrevista e ouça o álbum "É" completo.




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Eu: Que sua voz é notavelmente linda, até os ouvidos mais dispersos conseguem perceber, quero saber como foi o inicio de sua carreira. Em qual momento veio à sua mente “eu sou cantora”?

Duda: Sempre digo que sou a vontade de cantar, e não a cantora. Nunca me percebi cantora. Percebi a necessidade, o impulso de cantar, quando eu fiz quinze anos. Não cantava antes - só no chuveiro. Tampouco tinha qualquer tipo de relação estreita com música, mas comecei a me experimentar. Cantei em bares, em grupos vocais, ouvi muita música, convivi com artistas. Mergulhei fundo numa busca de me entender nesse mundo e compreender o que eu queria fazer com isso. Foi um ʻafloramentoʼ. Não nasci cantora, de cimento, de barro, me fiz e me faço cantora no ato (porque amar é agir!).

Eu: É muito nova ainda – 20 anos de idade, uma menina – e o mais notável em sua música é a interpretação e as letras que são, na sua maioria, pesadas, dotadas de uma melancolia onde o ouvinte consegue senti-la em sua voz. Há alguma vivência ou inspiração que utilize para chegar ao resultado final de suas músicas? Tem algum apego ao escolher qual irá interpretar?

Duda: Acredito que toda vivência é a inspiração, e mais, a matéria prima desse resultado final, consciente ou inconscientemente. A gente externa aquilo que nos atravessa, que nos perfura. Estar vivo é estar exposto à todos esses estímulos. Por isso a escolha do repertório é tão substancial e emblemática na construção do trabalho de um intérprete. A gente escolhe cantar o que a gente queria dizer e não consegue. É um ʻdesafogamentoʼ. Sou muito minuciosa e cheia de apegos pra escolher o que vou cantar. São várias instâncias de apego: busco a melodia que me cabe na voz, busco a mensagem que eu quero sustentar, busco uma subversão dos caminhos óbvios, busco algo que meu corpo possa cantar junto, busco sentir que a música precisa de mim tanto quanto eu preciso dela (tipo varinha do Harry Potter, que escolhe o bruxo, sabe? rs), mas tudo é isso é secundário. O que de fato determina é o quanto aquilo tudo, no conjunto da obra, me é absoluta e incontrolavelmente visceral, e aí os porquês não tem mais a menor importância. É totalmente passional.

Eu: Sei que é uma pergunta difícil, cada artista sente uma sensação única no palco. Mas e você? Como se sente?

Duda: Palco é: ʻeterutopiaʼ; parir sentidos; oxigenar a vida; ode ao abismo; mover o dom; esbugalhar entranhas; ferir o são; romper toda possibilidade de impossibilidade; sedução; dançabilidade; amar sem calcular; livrar-me da loucura de minha própria criação; cuspir a alma pela boca; trepar curiosidades de belezas acesas; sustentar as purezas sujas; quebrantar-se; quebrar-se; brandar-se; brindar; desvelar o sagrado segredo de tocar o intocável intocado pra morrer na boca de um orgasmo.

Eu: Quais são suas principais influências na música?

Duda: Aí é difícil. São tantas! Tem o leite materno - coisas que ajudaram a construir meu primeiro pensamento musical, como: Tom Jobim, Djavan, Maria Gadú, Elis Regina, Ella Fitzgerald, Gil, etc. Mas, nesse momento da vida: Fiona Apple, Caetano Veloso, Gal, Lenine, Ana Cañas, Ney Matogrosso, RadioHead, LedZepplin, Vitor Ramil, Bjork, Jeff Buckley, Chico Cesar, Moska, The Dead Wheather, Pink Floyd, Stones e, sobretudo, contemporâneos meus (falo mais sobre eles na próxima pergunta).


Eu: Atualmente, devido a programas de financiamento coletivo e encontros musicais, muitos músicos estão se unindo de diferentes pontos do país para mostrar sua arte (cito como exemplo a cooperação para o “Na vida anterior” de João Guarizo que contou com muitos artistas no Catarse). Como você vê essa nova geração da MPB e toda essa interação que atualmente se expande cada vez mais?


Duda: Acho isso tudo a coisa mais maravilhosa do mundo. Essa interação expande galáxias no trabalho de todo jovem artista hoje. Música é troca, é comunicação, é comunhão. Quanto mais essa interação for ativada, tanto mais cresceremos, e isso não só em relação à construção musical e artística mas também no que tange a disseminação destes novos trabalhos e formação de público. Voto que cada vez mais as vidraças da individualidade sejam rompidas, pra que a gente viva cada vez mais e mais essa ʻsurubaʼ musical . Mais do que uma nova geração de MPB emergindo, me atento e me atenho a comentar sobre trabalhos de contemporâneos meus que tem, a meu ver, contribuído para o desenvolvimento de uma linguagem universal da música: RUA, Posada e o Clã, Baleia, Ventre, Cícero, Paulo Monarco, Caio Prado, Cesar Lacerda, João Cavalcanti, Phill Veras, os meninos do 5 a Seco todos, Dani Black, Lucas Vasconcelos, Bruna Moras, Julia Vargas, Pietá, Thales Silva, e tantos e tantos e tantos outros, que tem todo o meu respeito e admiração. Uns mais conservadores, sustentando a tradição de nossa música. Outros mais ousados, que subvertem os caminhos óbvios e propõe um ineditismo maior (esses tem minha reverência, porque são parte de minha busca).

Eu: Como você vê a importância da internet em sua carreira e esse cenário musical que nasce e se expande por intermédio da web? Já conheceu cantores ou fez parcerias musicais por intermédio da mesma?

Duda: E tem como não achar maravilhoso? Em tempos de reformatação do mercado fonográfico e midiático a internet é o que mantém acesa a fagulha da possibilidade de realização. A internet é de uma importância substancial, pois é o que permite que nosso trabalho exista no mundo, para além do nosso controle e poder de alcance.Já conheci vários cantores e compositores por meio da internet e estabeleço várias trocas.

Eu: Falando em interação, o Because Ousa nasceu de um encontro entre outros grandes jovens músicos. Qual sua relação com essa música e como foi pra você defende-la e vencer no Festival de Música de Sorocaba?

Duda: ʻBecause Ousaʼ foi um divisor de águas no meu caminho musical e na minha vida; foi paixão à primeira ouvida, e foi arrebatador. Ela foi o meu primeiro movimento, na construção de um trabalho autoral. Me parece que ali emergiu algo que, para o público que recebia, apontava, sublinhava quem era a Duda. Ali acho que as pessoas começaram a se atentar para o que eu tinha a dizer. Fizemos 8 festivais com ela e fomos premiados em todos. Gravamos ela no projeto ʻMúsica de Graçaʼ da Dani Gurgel. Ela me rendeu experiências maravilhosas que me possibilitaram entender mais do meu ofício (física e espiritualmente); ela me fez amadurecer e me descobrir mais; ela me abriu portas para várias outras trocas; ela conquistou um pequeno (mas absolutamente significativo!) público com quem eu estabeleço hoje uma troca. 


Eu: Soube que em breve seu filho irá nascer – o seu primeiro CD – o que podemos esperar dele? Fale-nos mais sobre esse projeto.

Duda: Trata-se de um trabalho autoral, sobre ineditismos de compositores contemporâneos meus, os quais foram escolhidos à dedo, não só pelo meu interesse artístico de interseccionar cada um desses universos com o meu trabalho, mas também por questões afetivas (de trocas que já vinham se estabelecendo há um tempo). É um disco de banda - que reflete o meu encontro com os três músicos e com o produtor do disco; é uma construção coletiva; é o NOSSO disco. Muito amor, admiração e gratidão por todos os envolvidos. É um disco subversivo, que sustenta a tradição da canção, mas desconstrói o modo com o qual ela é abordada, explorando novas sonoridades. É um disco troncho e sedutor. Fala sobre coragem, sobre paixão, sobre abismo, sobre dor, sobre certezas e incertezas, sobre sonho e sobre fé. É um retrato de quem eu sou agora, do que me atravessa, do que inquieta, me integra, e é o mel do meu melhor. Quanto ao que vocês podem esperar dele: acho complicado responder isso. Me pego pensando que gostaria que vocês não esperassem nada, rs. Gostaria que vocês simplesmente o recebessem com uma escuta corporal e sensorial aberta às novas possibilidades que proponho ali. A única garantia que posso dar é de que foi feito com todo amor que já fui capaz de abrigar nessa vida. Muito amor, com todas as formas, de todos os jeitos em todos os gestos.

Eu: E falando em futuro, já tem em mente aonde quer chegar? Quais são os seus sonhos nesses caminhos musicais?

Duda: Sou muito grata à Deus, à vida, por tudo que tem me acontecido desde que eu comecei a fazer música, e sobretudo sou grata ao modo como tudo isso tem sido construído - com solidez, entrega, trabalho, dignidade, com lindas descobertas, com pessoas incríveis fazendo parte dessa construção. Acho que o que eu mais desejo é seguir desfrutando dessa plenitude e expandindo-a a cada conquista. Desejo cada vez mais poder conviver, trabalhar e trocar com pessoas maravilhosas e que eu admire. Desejo cada vez mais descobrir a ʻinfinitudeʼ de possibilidades que a música é. Desejo me descobrir, cada vez mais. Desejo crescer, aprender, melhorar, contribuir, agregar, e dar algum sentido (pra mim e pro mundo) à minha existência.


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O tempo passo e cá está o filho nascido, forte, profundo, lindo! Boa degustação a todos! 





Saiba mais sobre Duda Brack 

23 de ago. de 2015

Vamos Juntas? | Entrevista com a criadora do projeto que incentiva mulheres a andarem juntas e se protegerem em situação de risco


Ah facebook, como gostamos de você! Não só pelo seu entretenimento que nos faz ficar horas e mais horas em frente a uma tela mas porque aproxima pessoas. Melhor, aproxima histórias! E o Vamos Juntas? é prova disso. 


Com o objetivo de conscientizar o público feminino de sua força, o movimento Vamos Juntas? incentiva mulheres a se acompanharem em ambientes que ofereçam riscos. Quantas vezes você que lê esse artigo agora já não se sentiu desamparada ao andar a noite pelas ruas voltando do trabalho ou faculdade?! Bom, nem eu e menos ainda você somos as únicas a se sentirem assim. O curioso é que em nosso bairro, no serviço ou até mesmo no transporte que utiliza há pessoas com os mesmos receios, então, por que não vamos juntas? 




Imagem: Divulgação



O blog Perdi a Chave procurou a idealizadora desse projeto, Babi Souza - jovem jornalista de 25 anos, residente no Rio Grande do Sul e que além de ter criado essa lindeza que mostra como a união nos faz mais forte, ainda foi extremamente simpática ao responder essa entrevista - para uma conversa. 

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Confira a entrevista exclusiva:


PERDI A CHAVE: Andar acompanhada já é até prática comum entre as mulheres, porém, muitas vezes, de forma inconsciente. Como foi a criação do “Vamos Juntas?”? Houve alguma vivência pessoal que desencadeou na idealização do projeto?

BABI SOUZA: O movimento começou, de fato, no dia 30 de julho, mas digamos que a sementinha dele, dentro de mim, germinava há algum tempo. Sempre fui vista como uma jornalista idealista que tem o sonho de mudar o mundo, e realmente tenho. Não que eu tenha a megalomania de achar que o mundo não viveria sem mim e tal, mas acho que tenho a responsabilidade de "mudar" o MEU mundo e o mundo a minha volta, como acho que deveria pensar qualquer cidadão. Nesse sentido, vinha pensando muito sobre a relevância que eu tinha, não tanto como jornalista, mas principalmente como ser humano. Foi quando comecei a estudar e pesquisar sobre colaborativismo e empreendedorismo social. Entrei em contato com a incrível ideia de que as pessoas têm o poder de melhorar as suas vidas através da união e que juntos podemos mais e somos mais felizes. A velha ideia de que a união faz a força e de que ao invés de reclamar dos poderes, devemos nos propor, juntos, a deixar o nosso mundo um pouquinho melhor.

Como já estava em contato com essa forma de ver o mundo, o movimento surgiu como solução colaborativa para um problema real que passamos todos os dias. Tive o estalo no caminho de volta para casa me sentindo insegura por passar pelo centro de POA à noite. Convidei a Vika Schimitz (que hoje é designer do movimento) para montarmos um card (texto em imagem) explicando qual seria a ideia do movimento. A ideia era postar apenas nas minhas redes sociais para contar a ideia para as minhas amigas mas a repercussão foi tanta que em menos de duas horas pessoas de fora do meu circulo de amizade estavam compartilhando a imagem e perguntando se tínhamos página, aí que criamos ela.


PERDI A CHAVE: São 57 mil curtidas (Até o momento da entrevista. Hoje já conta com mais de 120 mil curtidas) na fanpage oficial em menos de um mês. Você acredita que tal desenvolvimento seja reflexo de um medo que, infelizmente, já é parte do cotidiano feminino? Como é pra ti lidar com as vozes de tantas mulheres que se fazem presente a partir das postagens do “Vamos Juntas?”?

BABI SOUZA: É incrivelmente emocionante receber tantos relatos de mulheres desconhecidas. Quase que posso ouvir dentro de mim uma voz que diz "sim, aquilo que as pessoas falam sobre a desunião das mulheres é mentira". Primeiro porque elas confiam e acreditam na gente para contar sua história que às vezes nunca tiveram coragem de falar para ninguém e segundo porque a grande maioria delas contam ocasiões em que mulheres Se uniram e juntas foram mais tranquilas e felizes. Muitas têm me adicionado no face, inclusive, apenas para agradecer. É muito emocionante. Posso ver um sinal de que o futuro do mundo realmente é mais bondoso e colaborativo.

PERDI A CHAVE:   “Não eduque suas meninas para se protegerem, mas sim, seus meninos para as respeitarem”. Pensando nisso, como é a participação do público masculino com a página e com a ideia de acompanhamento a mulheres?

BABI SOUZA: Dá para sentir que eles têm bastante dificuldade de entender como nos sentimos na rua, mas temos recebido muitas mensagens deles. Algumas no sentido de “nossa, não entendi direito pra que serve o movimento” e outras no sentido de “obrigada por terem criado esse movimento, me sinto preocupado pela minha namorada/irmã/mãe”. Uma vez compartilhamos na página a frase “Só as mulheres entendem o alívio de olhar para trás na rua e ver que a pessoa que está caminhando atrás de você é outra mulher.” e um homem comentou “Não são só vocês, a gente também sente isso”.

PERDI A CHAVE:  Mesmo ainda sendo recente o “Vamos Juntas?” possui um cunho sólido de conscientização para a segurança pública. Além dos usuários das redes sociais, o projeto já angariou algum apoio de entidades públicas? Quais são os planos para o futuro?

BABI SOUZA: Algumas prefeituras têm nos procurado com a ideia de difundir a ideia em suas cidades e nós apoiamos isso. Também tem meninas e (e até um menino) que pediram permissão para colocar cartazes do VJ? Em suas escolas. <3

PERDI A CHAVE:  A internet é objeto presente na vida de grande parte dos moradores de grandes cidades. A seu ver, qual é o papel dessas ferramentas (mídias sociais) para ações que beneficiam a mulher e a sociedade? Já houve muitas criticas ao “Vamos Juntas?” e, se sim, como você reage diante delas?

BABI SOUZA: Não tivemos muitas críticas, não. Apenas alguns homens que não entendem porque ele existe e outras mulheres que dizem se negar a confiar em outras mulheres na rua. Sobre a internet, acho que o movimento é uma prova de que ela é uma ferramenta mobilização incrível com um poder enorme quando falamos de um assunto relevante para as pessoas.


PERDI A CHAVE:  Para encerrar, deixe seu recado às leitoras (e leitores) do Perdi a Chave.

BABI SOUZA: Convido todas a se unirem umas às outras e a acreditarem na sororidade. Se tiver dúvidas sobre se ela realmente existe, visitem a página e tenham a prova de que nossa união é possível, sim. <3



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Veja algumas das histórias enviadas para o "Vamos Juntas?"

ENTREVISTA | Vamos Juntas?
Imagem: Divulgação


Em um mundo ideal não precisaríamos andar juntas para nos proteger, tal ação seria somente um ato de coleguismo ou amizade. Infelizmente, a violência contra a mulher aumenta cada vez mais. Em 2014, foram registrados cerca de 50 mil casos de estupro no território nacional, número que passa distante do real pois há muitos casos que não chegam nem a ser denunciados e, portanto, não entram nos dados estatísticos.  Ações como a da Babi Souza nos mostram que podemos sim nos proteger, olhar para a garota ao nosso lado e identificar que o medo dela também pode ser o nosso e que, consequentemente, a força dela em enfrentar também pode ser a nossa. 

Conheça essa ideia na fanpage oficial clicando aqui , conte sua história, conheça muitas outras e compartilhe essa ideia com suas amigas, colegas ou até mesmo com desconhecidas que encontrar em seu caminho. 





23 de jul. de 2015

TEATRO | sobre a tara que veste corpo in cena


Essa semana surgiu em meus feeds um texto publicado no Jovem Online intitulado "É verdade que atores e atrizes precisam ficar pelados na faculdade de artes cênicas?" e, ao republica-lo em minha timeline, gerou divergentes e interessantes reflexões.

Primeira situação: você não terá que ficar nu quando estudar artes cênicas. Claro, é aconselhável ingressar carregando em si um espírito livre que te permita vivenciar diferentes linguagens artísticas-teatrais as quais, uma delas, pode utilizar a nudez. Mas a arte como um todo é extremamente abrangente. Uma carreira é delineada antes de mais nada pelo próprio artista, pois antes de ser ator/atriz você é um humano que tem dentro de si indagações, limites, receios e propósitos e eis o que há de mais belo na arte: a humanidade

Outro aspecto a ser refletido é essa ânsia de realizar peças teatrais com nudez - mesmo que o que vá ser produzido não tenha originalmente o elemento do nu. Há um pensamento comum de transgressão, de quebra de paradigmas quando a nudez é empregada - Infelizmente, é comum assistir peças fracas no que diz respeito a conceito e até mesmo atuação, que se destacam somente pela falta de roupa - e por tantas tentativas de encontrar esse diferencial acaba-se criando mais do mesmo. Não é o propósito aqui debater a qualidade de peças ou grupos (cada um tem sua proposta artística, sua linguagem, e todas merecem ser respeitadas), mas já é comum ver peças de baixa qualidade que se destacam apenas pelo nu. O corpo por si só é apenas uma página em branco a ser delineada e construída transformando-se assim em arte.

O nu pelo nu pode sim ter um conceito: a naturalidade! A sociedade ainda carrega consigo tabus desnecessários quanto a visibilidade do corpo - contraditoriamente, pois o corpo já é objeto de vitrines televisivas, comum aos olhos até dos mais conservadores - e, quando usado como estudo pode sim ser interessante. Mas para tal é necessário acabar com as grandiosas manchetes que anunciam "peça com cenas sexualmente explicitas" ou "grupo apresenta peça com nudez"

E até mesmo modificar o pensamento daqueles que atuam pois se é pra ser natural, a nudez deveria ser trabalhada com o olhar de alguém que sai do banho numa boa pois ali é uma cena comum de nudez cotidiana e não como algo que por obrigatoriedade o ator deveria alcançar em palco. Nada de errado na proposta de causar o espanto, questionamentos e concepções referente a nudez, é levantando tabus que levamos o próximo a reflexão. Mas é também glorificando tabus que o alimentamos para continuar assim sendo. Tudo é uma questão de proposta, não tem certo ou errado, mas tem antes de tudo um pensar.
A nudez é sim um objeto rico da arte, mas o material humano mais valioso no teatro é ainda o que vem de dentro. A pele é um figurino único, exclusivo que pode nos levar além - como humanos, atores, personagens - mas é apenas uma parte do que nos compõe. O corpo, a arte, a essência do artista vai mais além do que a exposição de seu corpo, esta é mais inerente a alma

E para complementar segue um poema de Eduardo Dias que surgiu dessa prosa boa que sem querer as redes sociais nos promoveu:
sobre a tara
que veste
corpo
in cena.
peito
sem roupa
é facil,
quero ver
coração nu
(ainda que)
vestido.
(sobre fetiches e fantoches)

imagem: Folha | UOL 

24 de jan. de 2015

Centro de SP: sobre amor, andarilhos e aquilo que se vê


Há algo de único no Centro de São Paulo. Talvez seja somente uma visão exagerada de quem cresceu lendo crônicas de jornalistas boêmios e que, por influência, ache os ares dessas ruas acinzentadas um tanto especial.

Andar me faz bem. Sempre me fez bem! E mesmo quando eu já estou bem, andar me faz mais bem. E andar pelo Centro então...nem se fala! Quantas vezes sai da Vergueiro, peguei a Paulista inteira, desci aquela Consolação desértica de transeuntes, dando voltas na Praça Roosevelt, seguindo pela Ipiranga e caminhando até a escadaria do Municipal (e parando por lá, claro! As pernas uma hora precisam descansar). São sei lá quantos quilômetros e sei menos ainda quanto tempo esse trajeto leva, não sinto o tempo, não sinto o corpo, não sinto. E o não sentir, nesse aspecto, é a sensação mais prazerosa do mundo. Catártico.


FOTO: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO 

E lá, já no Municipal fico a olhar. De dia, aquela balburdia que chega a bagunçar os sentidos: artistas de rua, amplificadores em portas de lojas, gente se trombando, aquela pesquisadora chata que teima atrapalhar o seu sossego a lhe encher de perguntas sobre consumo e afins. De noite aquele marasmo: a van policial (que ótimo), alguns bêbados cambaleando pelas calçadas e sumindo ao longe, casais de mãos dadas flertando e outros, mais intensos, se esquentando em toques e beijos, alguns mais solitários (Presente!rs Sempre só estou eu e meus pensamentos). Por falar em mim, olho cada um e penso que com eles passam histórias, tento decifrar em suas faces carrancudas, alegres, despojadas, indiferentes, etc, aquilo que eles possam ter vivido antes de estar ali. Assim como eu, depois de caminhar por muito tempo até lá chegar, parei ali com uma história, uma expressão, uma vida.


Faço isso desde, sei lá, dezessete anos de idade, onde saia das salas de concerto, das aulas musicais, para assim ficar. Andava esses caminhos de forma mais leve, tinha sim pesos carregados de outrora que eu fingia não estar ali mas que sempre carreguei, mas os passos eram menos difíceis e a respiração mais leve. O tempo passa (ohh se passa!) mas há aquilo que fica, um hábito, um pensar, um viver, um olhar. A cidade de SP assim como o mundo que se vive (Seja esse que se habita, seja aquele que se cria, seja aquele que só existe para nós pelo simples e puro destino) está aí como cenário de histórias, de anônimas histórias.